Etnodesenvolvimento no Ceará: o contributo de egressas/os indígenas do ensino superior para suas comunidades

Abstract

A ideia de desenvolvimento no Brasil, desde o período colonial, segue uma lógica positivista, a partir de um olhar técnico, científico, edificado no pilar da expropriação dos recursos naturais. Fica encoberto nos relatos da história que o “desenvolvimento ideal” imposto como forma de “resgate” de pessoas que foram encontradas vivendo em condições “subumanas”, só aconteceu devido a capacidade destes últimos em se relacionar harmonicamente com o ambiente, e da vasta quantidade de técnicas de sobrevivência que dispunham, da exploração e escravização de seus corpos, saberes, tradições e vontades. Na universidade temos vagas reservadas, e uma busca pela permanência dos indígenas. Contudo, como os novos profissionais estarão preparados para o engajamento dos conhecimentos aprendidos em razão da dinâmica local de suas aldeias, a política pública propicia que eles possam impactar a realidade dos seus lugares de origem, habitando e transformando a vida comunitária para manutenção de sua cultura, ou serão forçados a abandonar sua terra, buscando aspirações profissionais entrando na condição de “índios desaldeados”, ou “índios urbanos”. A questão de partida central será em que medida a formação acadêmica de indígenas comporta lógicas etnocêntricas de desenvolvimento, e de que maneira os indígenas ao saírem do ensino superior, podem contribuir para a emancipação dessa conjuntura. A metodologia utilizada foi qualitativa por meio da análise de narrativa, tendo sido pautada por entrevistas semiestruturadas realizadas de forma remota com 9 egressos indígenas de etnias reconhecidas no estado do Ceará. O referencial teórico explicitou o conceito de etnodesenvolvimento pensado pelos autores clássicos, bem como por outros que lhe são críticos, e a gestão geral de políticas públicas indigenistas e do etnodesenvolvimento no Brasil e no Ceará. Os resultados apontaram toda a interface subjacente ao mundo acadêmico, os preconceitos, dificuldades, superações, dilemas e lutas de um indígena nesse espaço. Ouvindo as narrativas, não resta dúvida quanto a relevância das políticas afirmativas, ao mesmo tempo que a centralização do espaço acadêmico e de suas metodologias obstaculiza maiores benesses. O etnodesenvolvimento não é uma alternativa extensiva a todas etnias e territórios indígenas nacionais, apesar de ser um conceito panamericano, não é totalmente pan-indígena.