O impacto do discurso político étnico-religioso durante as campanhas eleitorais na Guiné-Bissau a partir de 2019

Abstract

O presente trabalho investiga como os discursos políticos étnicos-religiosos são usados durante os pleitos eleitorais na Guiné-Bissau para conquistar votos. Nesta pesquisa, discute-se o processo democrático guineense que deu fim ao regime do partido único que governava o país desde a proclamação unilateral da independência, que ocorreu no dia 24 de setembro de 1973 na Madina de Boé, no sul do país, até a abertura democrática que culminou com a primeira eleição democrática/multipartidária em 1994. A pesquisa buscou compreender as ferramentas linguísticas que são utilizadas pelos líderes políticos para reforçarem as suas identidades em diferentes localidades nos pleitos eleitorais e as indumentarias usadas. A nossa pesquisa tem como objetivo, assim, oferecer uma reflexão em torno do surgimento e manutenção dos discursos políticos étnico religioso durante as campanhas eleitorais na Guiné- Bissau, particularmente a partir de 2019. Antes da chegada dos colonizadores, a Guiné-Bissau já possuía uma estrutura social própria e praticava religiões de matriz africana. Com a colonização, a religião cristã e o islão foram impostas como instrumento de denominação e controle cultural. A metodologia usada foi a análise de um corpus composto por fotografias e trechos de registros audiovisuais das campanhas dos dois candidatos durante o segundo turno da eleição de 2019, obtidos de diferentes páginas, perfis e postagens na rede social Facebook. Os resultados obtidos na realização desta pesquisa evidenciam que a roupa como discurso na política, na Guiné-Bissau, está associada a identidades culturais específicas, de modo que, em algumas figuras políticas guineenses, verifica-se a recorrência do uso personalizado de algum tipo de objeto como forma de marcar a sua identidade política em momentos de campanha eleitoral. Como marca/identidade política, isso permite ao candidato ser facilmente identificado pelos eleitores e contribui para o auge dos discursos de índole segregacionista/regionalizados tanto pelos próprios candidatos quanto pelos eleitores.