Uma hermenêutica de Buell Quain

Abstract

Nosso instrumento de investigação é a analítica existencial realizada por Heidegger na segunda parte de Ser e Tempo e a hermenêutica de Paul Ricouer. Para mostrar como se oferece o tema do suicídio no romance memorialista Nove Noites, de Bernardo de Carvalho, me aproprio do conceito heideggeriano de angústia, que está associado no pensamento do filósofo à noção de ser-para-a-morte. Procuro desenvolver a imbricação de três conceitos - angústia, suicídio e ser-para-a-morte - e realizar uma hermenêutica do suicídio, tal como experimentado pelo personagem Buell Quain, protagonista do romance. O trabalho investiga a possibilidade de um concreto desvelamento da presença, do Dasein, e da possível abertura para o ser em sua totalidade - tido por Heidegger como conhecimento autêntico - na experiência do personagem, dado que ele, segundo o relato ficcional sobre a sua vida, se encontrava imerso nos limites existenciais impostos pela finitude humana, e pela angústia peculiar de que foi acometido, por ter sido suicida em potencial e de fato. A partir desta investigação proponho um novo conceito, o qual denominei de ser-para-o-suicídio.