A metáfora nas aulas de língua portuguesa

Abstract

Desde os estudos retóricos, na Grécia antiga, a metáfora vem sendo explorada primordialmente como recurso estilístico, construído com base em uma relação de similaridade entre conceitos para melhor expressão das coisas do mundo. No entanto, com os trabalhos de Lakoff e Johnson (1980), o fenômeno passa ser compreendido como parte integrante do sistema conceitual humano. Sob esse novo olhar, o discurso cotidiano torna-se espaço privilegiado de investigação da metáfora (MENEZES, 2010). A partir da teoria da metáfora conceptual, novas perspectivas se desenvolvem, como a da metáfora cognitivodiscursiva (CAMERON, 2003), que enfatiza os aspectos socioculturais de usos metafóricos na linguagem em uso. Visto que entendemos ser necessária uma sintonia entre universidade e escola, a fim de viabilizar intercâmbio entre pesquisas acadêmicas e realidade docente, empreendemos investigação de como a metáfora é explicada/explorada em livros didáticos, uma das principais ferramentas para o processo de letramento na realidade escolar brasileira (BAGNO, 2013). Interessa-nos investigar sob qual perspectiva os livros tratam esse fenômeno: se primordialmente como recurso estilístico e facultativo, ou se como expediente por meio do qual é possível compreender os aspectos avaliativos e afetivos na constituição de referentes discursivos, o que possibilita uma compreensão dos valores subjacentes às representações de objetos sociais como situações, interações, grupos, instituições, indivíduos em dado momento sócio-histórico. Visando alcançar o objetivo supracitado, realizou-se uma coleta seguida de uma interpretação qualitativa de materiais didáticos de língua portuguesa em uso nas escolas públicas do maciço de Baturité. Da análise empreendida, constatamos que há pouco espaço para o tratamento da metáfora em materiais didáticos e, neste espaço, a metáfora ainda é explicada majoritariamente como recurso expressivo, o que inviabiliza o trabalho de leitura crítica de expressões metafóricas constantes nos mais diversos discursos cotidianos.