Quilombo Periférico: Do boom boom black à festa crioula - as festividades negras na cidade de Fortaleza/Ceará

Abstract

Neste estudo, empreendo uma análise das narrativas e representações que cercam o Baile Boom Boom Black, o produtor cultural e seus(as) frequentadores (as). O Boom Boom Black é um movimento de agenciamento negro de construção de espaço de lazer e sociabilidade para a população negra na cidade de Fortaleza. Paralelamente, analiso de perto os elementos de resistência e agência envolvidos na concepção e realização do baile. O propósito deste artigo é estimular uma reflexão crítica sobre as narrativas e representações que atravessam a construção da identidade negra na cidade de Fortaleza. Na pesquisa buscou-se responder às seguintes questões: Como as narrativas e representações em torno do Baile Boom Boom Black influenciam a construção da identidade cultural de seus(as) frequentadores(as)? Qual é o elo existente entre a ancestralidade negra e o baile black? Qual a importância do Boom Boom Black como espaço de agência e resistência negra em Fortaleza? A metodologia de pesquisa adotada é fundamentada na escrevivência (Evaristo, Conceição, 2007), etnografia e netnografia. A escrevivência inserida numa abordagem de pesquisa onde a narrativa sobre o objeto é influenciada pela primeira pessoa, num processo que retroage entre memória e escrita. Já a netnografia é um método de pesquisa de campo virtual, que se baseia na observação e análise de comunidades online para compreender a cultura, comportamento e interações dos participantes (Amaral, Adriana; Natal, Geórgia; Viana, Lucina. 2008). Na pesquisa, a netnografia foi empregada para captar informações e discussões que ocorrem no contexto virtual dos bailes, complementando a abordagem presencial. A integração dessas metodologias permitiu-me uma compreensão mais densas de como os(as) participantes(as), organizadores(as) e a comunidade negra em geral percebem os bailes e suas relações com a identidade negra. Por isso, julgo ser um estudo relevante pela necessidade de uma análise interna, reescrevendo as narrativas que são historicamente moldadas por uma perspectiva colonialista.