Na perspectiva da afrocentricidade: desvelando o espaço escolar através dos olhos da pessoa negra - uma investigação das representações imagéticas em livros didáticos de Ciências, Capistrano CE - ensino fundamental 6º ao 9º ano

Abstract

Esta dissertação, de natureza bibliográfica e documental, propôs-se a analisar as representações imagéticas da população negra nos livros didáticos de Ciências destinados aos alunos do 6o ao 9o ano do ensino fundamental. Esses materiais foram aprovados no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) de 2020 e adotados pela rede pública municipal de educação da cidade de Capistrano–CE. A questão central da pesquisa foi formulada da seguinte maneira: de que forma as pessoas negras são representadas nesse material? O problema em questão originou-se da experiência do pesquisador como professor de Ciências e Biologia nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, em meio a um contexto de mobilização docente no município de Capistrano–CE desde o ano 2000 até os dias atuais. Essa experiência motivou a reflexão sobre o papel dos livros didáticos na promoção ou obstáculo à educação para as relações étnico-raciais. Para a análise imagética da representação do povo negro nos livros didáticos, utilizou-se a descrição e interpretação das imagens pelo pesquisador. Essas iconografias foram estudadas à luz da Teoria da Afrocentricidade, bem como do conceito de representação proposto por Chartier. Adicionalmente, foram consideradas as categorias de raça, racismo, preconceito e discriminação racial, através da análise de conteúdo temático proposta por Bardin para a construção de categorias temáticas. Os resultados destacam uma significativa sub-representação da população negra, com uma frequência mais intensa de representações de pessoas brancas, caracterizando um viés racista incorporado na coleção didática. A análise revelou que 62,08% das imagens retratam pessoas brancas, enquanto apenas 37,91% representam pessoas negras, evidenciando uma tendência à visibilidade, ao privilégio simbólico e material da branquitude, reforçando, assim, seu caráter racista no plano imagético. Identificou-se também um processo de epistemicídio e memoricídio, uma vez que não foram identificados cientistas negros/as representados/as na referida obra didática. Por fim, durante a investigação, observou-se um “alinhamento” pontual das representações imagéticas à luz dos seis princípios da Afrocentricidade: “Agência africana”, “Localização Psicológica”, “Descoberta do Lugar do Africano como Sujeito”, “Defesa dos Elementos Culturais Africanos”, “Refinamento Léxico” e “Uma Nova Narrativa da História da África”.